Continuação do Conto de Bernardo Carvalho.
A vida de um homem normal
Uma noite, voltando de metrô para casa,
como fazia cinco vezes por semana, onze meses por ano, ele ouviu uma voz.
Estava exausto, com o nó da gravata frouxo no pescoço, o colarinho desabotoado,
a cabeça jogada para trás, o walkman a todo o volume e os fones enterrados nos
ouvidos. De repente, antes mesmo de poder perceber a interrupção, a música que
vinha ouvindo cessou sem explicações e, ao cabo de um breve silêncio, no lugar
dela surgiu uma voz que ele não sabia nem como, nem de quem, nem de onde.
Ele olhou para o lado e havia uma mulher ruiva, com olhos
castanhos, tinha uma aparência nova, ou como ele pensava, mais nova que ele.
Ela o olhava como se estivesse esperando a resposta de alguma pergunta
que ela havia feito.
- Você não vai me responder.- Ela falou
rapidamente como se não tivesse tempo, mas faltava muito tempo para o trem,
parar na próxima estação, ele não sabia se falava com ela ou não mais. Ele
ficava olhando-a, e queria responder, mas não sabia que pergunta, então(como ia
responder¿) ele não queria pedir pra ela falar de novo, então continuou
em silêncio, e foi escutar música novamente quando ele percebeu a mulher
continuava olhando para ele.Ele desligou o fone.
- O que você quer?-disse angustiado.
Quando ele virou para olhar para ela, pra
saber o que ela queria, não havia mais ninguém ao seu lado.
Raíssa C. Schwantes.
(Bernardo Carvalho.
In:Contos.São Paulo:Campanhia das Letras,2003.p.11.)
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