terça-feira, 19 de junho de 2012


                                                       Maria, morte ou alegria?

                       Releitura do conto "Venha Ver o Pôr do Sol" (Lygia Fagundes Telles)

          Ela subiu sem pressa a tortuosa ladeira. À medida que avançava, as casas iam rareando, modestas casas espalhadas sem simetria e ilhadas em terrenos baldios. No meio da rua sem calçamento, coberta aqui e ali por um mato rasteiro, algumas crianças brincavam de roda. A débil cantiga infantil era a única nota viva na quietude da tarde.
Ele a esperava encostado a uma árvore. Esguio e magro, metido num largo blusão azul-marinho, cabelos crescidos e desalinhados, tinham um jeito jovial de estudante.
- Minha querida Raquel.
Ela encarou-o, séria. E olhou para os próprios sapatos.
- Vejam que lama. Só mesmo você inventaria um encontro num lugar destes. Que idéia, Ricardo, que idéia! Tive que descer do taxi lá longe, jamais ele chegaria aqui em cima.
Ele sorriu entre malicioso e ingênuo.
- Jamais, não é? Pensei que viesse vestida esportivamente e agora me aparece nessa elegância…Quando você andava comigo, usava uns sapatões de sete-léguas, lembra?
- Foi para falar sobre isso que você me fez subir até aqui? – perguntou ela, guardando as luvas na bolsa. Tirou um cigarro. – Hem?!
- Ah, Raquel… – e ele tomou-a pelo braço rindo.
- Você está uma coisa de linda. E fuma agora uns cigarrinhos pilantras, azul e dourado…Juro que eu tinha que ver uma vez toda essa beleza, sentir esse perfume. Então fiz mal?
- Podia ter escolhido um outro lugar, não? – Abrandara a voz – E que é isso aí? Um cemitério?
Ele voltou-se para o velho muro arruinado. Indicou com o olhar o portão de ferro, carcomido pela ferrugem.
- Cemitério abandonado, meu anjo. Vivos e mortos, desertaram todos. Nem os fantasmas sobraram, olha aí como as criancinhas brincam sem medo – acrescentou, lançando um olhar às crianças rodando na sua ciranda. Ela tragou lentamente. Soprou a fumaça na cara do companheiro. Sorriu. – Ricardo e suas idéias. E agora? Qual é o programa?
Brandamente ele a tomou pela cintura.
- Conheço bem tudo isso, minha gente está enterrada aí. Vamos entrar um instante e te mostrarei o pôr do sol mais lindo do mundo.
Perplexa, ela encarou-o um instante. E vergou a cabeça para trás numa risada.
- Ver o pôr do sol!…Ah, meu Deus…Fabuloso, fabuloso!…Me implora um último encontro, me atormenta dias seguidos, me faz vir de longe para esta buraqueira, só mais uma vez, só mais uma! E para quê? Para ver o pôr do sol num cemitério…
Ele riu também, afetando encabulamento como um menino pilhado em falta.
- Raquel minha querida, não faça assim comigo. Você sabe que eu gostaria era de te levar ao meu apartamento, mas fiquei mais pobre ainda, como se isso fosse possível. Moro agora numa pensão horrenda, a dona é uma Medusa que vive espiando pelo buraco da fechadura…
- E você acha que eu iria?
- Não se zangue, sei que não iria, você está sendo fidelíssima. Então pensei, se pudéssemos conversar um instante numa rua afastada…- disse ele, aproximando-se mais. Acariciou-lhe o braço com as pontas dos dedos. Ficou sério. E aos poucos, inúmeras rugazinhas foram se formando em redor dos seus olhos ligeiramente apertados. Os leques de rugas se aprofundaram numa expressão astuta. Não era nesse instante tão jovem como aparentava. Mas logo sorriu e a rede de rugas desapareceu sem deixar vestígio. Voltou-lhe novamente o ar inexperiente e meio desatento –Você fez bem em vir.
- Quer dizer que o programa… E não podíamos tomar alguma coisa num bar?
- Estou sem dinheiro, meu anjo, vê se entende.
- Mas eu pago.
- Com o dinheiro dele? Prefiro beber formicida. Escolhi este passeio porque é de graça e muito decente, não pode haver passeio mais decente, não concorda comigo? Até romântico.
Ela olhou em redor. Puxou o braço que ele apertava.
- Foi um risco enorme Ricardo. Ele é ciumentíssimo. Está farto de saber que tive meus casos. Se nos pilha juntos, então sim, quero ver se alguma das suas fabulosas idéias vai me consertar a vida.
- Mas me lembrei deste lugar justamente porque não quero que você se arrisque, meu anjo. Não tem lugar mais discreto do que um cemitério abandonado, veja, completamente abandonado – prosseguiu ele, abrindo o portão. Os velhos gonzos gemeram. – Jamais seu amigo ou um amigo do seu amigo saberá que estivemos aqui.
- É um risco enorme, já disse . Não insista nessas brincadeiras, por favor. E se vem um enterro? Não suporto enterros.
- Mas enterro de quem? Raquel, Raquel, quantas vezes preciso repetir a mesma coisa?! Há séculos ninguém mais é enterrado aqui, acho que nem os ossos sobraram, que bobagem. Vem comigo, pode me dar o braço, não tenha medo…
O mato rasteiro dominava tudo. E, não satisfeito de ter se alastrado furioso pelos canteiros, subira pelas sepulturas, infiltrando-se ávido pelos rachões dos mármores, invadira alamedas de pedregulhos esverdinhados, como se quisesse com a sua violenta força de vida cobrir para sempre os últimos vestígios da morte. Foram andando vagarosamente pela longa alameda banhada de sol. Os passos de ambos ressoavam sonoros como uma estranha música feita do som das folhas secas trituradas sobre os pedregulhos. Amuada mas obediente, ela se deixava conduzir como uma criança. Às vezes mostrava certa curiosidade por uma ou outra sepultura com os pálidos medalhões de retratos esmaltados.
- É imenso, hem? E tão miserável, nunca vi um cemitério mais miserável, é deprimente – exclamou ela atirando a ponta do cigarro na direção de um anjinho de cabeça decepada.- Vamos embora, Ricardo, chega.
- Ah, Raquel, olha um pouco para esta tarde! Deprimente por quê? Não sei onde foi que eu li, a beleza não está nem na luz da manhã nem na sombra da tarde, está no crepúsculo, nesse meio-tom, nessa ambigüidade. Estou lhe dando um crepúsculo numa bandeja e você se queixa.
- Não gosto de cemitério, já disse. E ainda mais cemitério pobre.
Delicadamente ele beijou-lhe a mão.
- Você prometeu dar um fim de tarde a este seu escravo.
- É, mas fiz mal. Pode ser muito engraçado, mas não quero me arriscar mais.
- Ele é tão rico assim?
- Riquíssimo. Vai me levar agora numa viagem fabulosa até o Oriente. Já ouviu falar no Oriente? Vamos até o Oriente, meu caro…
Ele apanhou um pedregulho e fechou-o na mão. A pequenina rede de rugas voltou a se estender em redor dos seus olhos. A fisionomia, tão aberta e lisa, repentinamente escureceu, envelhecida. Mas logo o sorriso reapareceu e as rugazinhas sumiram.
- Eu também te levei um dia para passear de barco, lembra?
Recostando a cabeça no ombro do homem, ela retardou o passo.
- Sabe Ricardo, acho que você é mesmo tantã…Mas, apesar de tudo, tenho às vezes saudade daquele tempo. Que ano aquele! Palavra que, quando penso, não entendo até hoje como agüentei tanto, imagine um ano.
- É que você tinha lido A dama das Camélias, ficou assim toda frágil, toda sentimental. E agora? Que romance você está lendo agora. Hem?
- Nenhum – respondeu ela, franzindo os lábios. Deteve-se para ler a inscrição de uma laje despedaçada: – A minha querida esposa, eternas saudades – leu em voz baixa. Fez um muxoxo.- Pois sim. Durou pouco essa eternidade.
Ele atirou o pedregulho num canteiro ressequido.
Mas é esse abandono na morte que faz o encanto disto. Não se encontra mais a menor intervenção dos vivos, a estúpida intervenção dos vivos. Veja- disse, apontando uma sepultura fendida, a erva daninha brotando insólita de dentro da fenda -, o musgo já cobriu o nome na pedra. Por cima do musgo, ainda virão as raízes, depois as folhas…Esta a morte perfeita, nem lembrança, nem saudade, nem o nome sequer. Nem isso.
Ela aconchegou-se mais a ele. Bocejou.
- Está bem, mas agora vamos embora que já me diverti muito, faz tempo que não me divirto tanto, só mesmo um cara como você podia me fazer divertir assim – Deu-lhe um rápido beijo na face. – Chega Ricardo, quero ir embora.
- Mais alguns passos…
- Mas este cemitério não acaba mais, já andamos quilômetros! – Olhou para atrás. – Nunca andei tanto, Ricardo, vou ficar exausta.
- A boa vida te deixou preguiçosa. Que feio – lamentou ele, impelindo-a para frente. – Dobrando esta alameda, fica o jazigo da minha gente, é de lá que se vê o pôr do sol. – E, tomando-a pela cintura: – Sabe, Raquel, andei muitas vezes por aqui de mãos dadas com minha prima. Tínhamos então doze anos. Todos os domingos minha mãe vinha trazer flores e arrumar nossa capelinha onde já estava enterrado meu pai. Eu e minha priminha vínhamos com ela e ficávamos por aí, de mãos dadas, fazendo tantos planos. Agora as duas estão mortas.
- Sua prima também?
- Também. Morreu quando completou quinze anos. Não era propriamente bonita, mas tinha uns olhos…Eram assim verdes como os seus, parecidos com os seus. Extraordinário, Raquel, extraordinário como vocês duas…Penso agora que toda a beleza dela residia apenas nos olhos, assim meio oblíquos, como os seus.
- Vocês se amaram?
- Ela me amou. Foi a única criatura que…- Fez um gesto. – Enfim não tem importância.
Raquel tirou-lhe o cigarro, tragou e depois devolveu-o
- Eu gostei de você, Ricardo.
- E eu te amei. E te amo ainda. Percebe agora a diferença?
Um pássaro rompeu o cipreste e soltou um grito. Ela estremeceu.
- Esfriou, não? Vamos embora.
- Já chegamos, meu anjo. Aqui estão meus mortos.
Pararam diante de uma capelinha coberta de alto a baixo por uma trepadeira selvagem, que a envolvia num furioso abraço de cipós e folhas. A estreita porta rangeu quando ele a abriu de par em par. A luz invadiu um cubículo de paredes enegrecidas, cheias de estrias de antigas goteiras. No centro do cubículo, um altar meio desmantelado, coberto por uma toalha que adquirira a cor do tempo. Dois vasos de desbotada opalina ladeavam um tosco crucifixo de madeira. Entre os braços da cruz, uma aranha tecera dois triângulos de teias já rompidas, pendendo como farrapos de um manto que alguém colocara sobre os ombro do Cristo. Na parede lateral, à direita da porta, uma portinhola de ferro dando acesso para uma escada de pedra, descendo em caracol para a catacumba.
Ela entrou na ponta dos pés, evitando roçar mesmo de leve naqueles restos da capelinha.
- Que triste é isto, Ricardo. Nunca mais você esteve aqui?
Ele tocou na face da imagem recoberta de poeira. Sorriu melancólico.
- Sei que você gostaria de encontrar tudo limpinho, flores nos vasos, velas, sinais da minha dedicação, certo?
- Mas já disse que o que eu mais amo neste cemitério é precisamente esse abandono, esta solidão. As pontes com o outro mundo foram cortadas e aqui a morte se isolou total. Absoluta.
Ela adiantou-se e espiou através das enferrujadas barras de ferro da portinhola. Na semi-obscuridade do subsolo, os gavetões se estendiam ao longo das quatro paredes que formavam um estreito retângulo cinzento.
- E lá embaixo?
- Pois lá estão as gavetas. E, nas gavetas, minhas raízes. Pó, meu anjo, pó- murmurou ele. Abriu a portinhola e desceu a escada. Aproximou-se de uma gaveta no centro da parede, segurando firme na alça de bronze, como se fosse puxá-la. – A cômoda de pedra. Não é grandiosa?
Detendo-se no topo da escada, ela inclinou-se mais para ver melhor.
- Todas estas gavetas estão cheias?
- Cheias?…- Sorriu.- Só as que tem o retrato e a inscrição, está vendo? Nesta está o retrato da minha mãe, aqui ficou minha mãe- prosseguiu ele, tocando com as pontas dos dedos num medalhão esmaltado, embutido no centro da gaveta.
Ela cruzou os braços. Falou baixinho, um ligeiro tremor na voz.
- Vamos, Ricardo, vamos.
- Você está com medo?
- Claro que não, estou é com frio. Suba e vamos embora, estou com frio!
Ele não respondeu. Adiantara-se até um dos gavetões na parede oposta e acendeu um fósforo. Inclinou-se para o medalhão frouxamente iluminado:
- A priminha Maria Emília. Lembro-me até do dia em que tirou esse retrato. Foi umas duas semanas antes de morrer… Prendeu os cabelos com uma fita azul e vejo-a se exibir, estou bonita? Estou bonita?…- Falava agora consigo mesmo, doce e gravemente.- Não, não é que fosse bonita, mas os olhos…Venha ver, Raquel, é impressionante como tinha olhos iguais aos seus.
Ela desceu a escada, encolhendo-se para não esbarrar em nada.
- Que frio que faz aqui. E que escuro, não estou enxergando…
Acendendo outro fósforo, ele ofereceu-o à companheira.
- Pegue, dá para ver muito bem…- Afastou-se para o lado.- Repare nos olhos.
- Mas estão tão desbotados, mal se vê que é uma moça…- Antes da chama se apagar, aproximou-a da inscrição feita na pedra. Leu em voz alta, lentamente.- Maria Emília, nascida em vinte de maio de mil oitocentos e falecida…- Deixou cair o palito e ficou um instante imóvel – Mas esta não podia ser sua namorada, morreu há mais de cem anos! Seu menti…
Um baque metálico decepou-lhe a palavra pelo meio. Olhou em redor. A peça estava deserta. Voltou o olhar para a escada. No topo, Ricardo a observava por detrás da portinhola fechada. Tinha seu sorriso meio inocente, meio malicioso.
- Isto nunca foi o jazigo da sua família, seu mentiroso? Brincadeira mais cretina! – exclamou ela, subindo rapidamente a escada. – Não tem graça nenhuma, ouviu?
Ele esperou que ela chegasse quase a tocar o trinco da portinhola de ferro. Então deu uma volta à chave, arrancou-a da fechadura e saltou para trás.
- Ricardo, abre isto imediatamente! Vamos, imediatamente! – ordenou, torcendo o trinco.- Detesto esse tipo de brincadeira, você sabe disso. Seu idiota! É no que dá seguir a cabeça de um idiota desses. Brincadeira mais estúpida!
- Uma réstia de sol vai entrar pela frincha da porta, tem uma frincha na porta. Depois, vai se afastando devagarinho, bem devagarinho. Você terá o pôr do sol mais belo do mundo.
Ela sacudia a portinhola.
- Ricardo, chega, já disse! Chega! Abre imediatamente, imediatamente!- Sacudiu a portinhola com mais força ainda, agarrou-se a ela, dependurando-se por entre as grades. Ficou ofegante, os olhos cheios de lágrimas. Ensaiou um sorriso. – Ouça, meu bem, foi engraçadíssimo, mas agora preciso ir mesmo, vamos, abra…
Ele já não sorria. Estava sério, os olhos diminuídos. Em redor deles, reapareceram as rugazinhas abertas em leque.
- Boa noite, Raquel.
- Chega, Ricardo! Você vai me pagar!… – gritou ela, estendendo os braços por entre as grades, tentando agarrá-lo.- Cretino! Me dá a chave desta porcaria, vamos!- exigiu, examinando a fechadura nova em folha. Examinou em seguida as grades cobertas por uma crosta de ferrugem. Imobilizou-se. Foi erguendo o olhar até a chave que ele balançava pela argola, como um pêndulo. Encarou-o, apertando contra a grade a face sem cor. Esbugalhou os olhos num espasmo e amoleceu o corpo. Foi escorregando.
- Não, não…
Voltado ainda para ela, ele chegara até a porta e abriu os braços. Foi puxando as duas folhas escancaradas.
- Boa noite, meu anjo.
Os lábios dela se pregavam um ao outro, como se entre eles houvesse cola. Os olhos rodavam pesadamente numa expressão embrutecida.
- Não…
Guardando a chave no bolso, ele retomou o caminho percorrido. No breve silêncio, o som dos pedregulhos se entrechocando úmidos sob seus sapatos. E, de repente, o grito medonho, inumano:
- NÃO!
Durante algum tempo ele ainda ouviu os gritos que se multiplicaram, semelhantes aos de um animal sendo estraçalhado. Depois, os uivos foram ficando mais remotos, abafados como se viessem das profundezas da terra. Assim que atingiu o portão do cemitério, ele lançou ao poente um olhar mortiço. Ficou atento. Nenhum ouvido humano escutaria agora qualquer chamado. Acendeu um cigarro e foi descendo a ladeira. Crianças ao longe brincavam de roda, enquanto na capela, Raquel chorava totalmente desolada. Ela vê alguém se aproximando devagar:

-Oi! Tem alguém aí? - E uma voz feminina responde:

-Sim! Há alguém aqui.

- Graças a Deus! Obrigada! - E Raquel foi subindo as escadas até se deparar com uma figura transparente de uma mulher - mas quem é você?!

- Eu sou Maria Camila.

- E por que você está aqui?

- Porque fizeram comigo, o mesmo que ele queria fazer com você.

- Hã? Como assim?

- Deixa pra lá. Agora irei te soltar.

- Mas você tem a chave?

- Não - E então Maria estendeu o braço em direção à portinhola - Mas mesmo assim a portinhola vai se abrir. - E de repente a portinhola abre sozinha.

- O quê? Mas... como?

- Depois que você morre, descobre que têm alguns "poderes". Se você tiver sorte, descobrirá rapidinho os seus. - E sem avisar, Maria desapareceu...

- NÃO!

                                                                                                                    Raul Batista Bock - 8ª Série

  

quarta-feira, 13 de junho de 2012


LICANTROPIA
Em um dia de sol, Pedro, sua mulher e seu filho foram acampar em um terreno baldio enorme:
¾       Nossa, pai, aqui é muito quieto!
¾       Então filho! Curta esta natureza! Os grilos, as corujas...
¾       Tudo isso é muito... muito...
¾       Amedrontador?
¾       Não! Eu não estou com medo! Se você duvidar, eu até...
¾       Você até vai buscar lenha na floresta comigo?
¾       Não... hã... É, pode ser. Pai, avisa a mãe!
¾       Amor? Querido?
¾       Sim?
¾       Lucas e eu vamos até a floresta pegar lenha para a fogueira.
¾       Tudo bem, mas não demorem.
¾       Está bem!
Lucas sai na frente, todo empolgado para ir à floresta:
¾       Vamos pai, corre!
¾       Já vou, já vou...
¾       Pai, o que foi isso? – No meio da caminhada eles ouvem um uivo muito alto. – Foi um cachorro, né?
¾       Não filho. Eu acho que são lobos. Fique atrás de mim. – Lucas foi andando devagar, até parar. – Vamos filho!
¾       Não consigo! Estou parado involuntariamente! – Ele havia se paralisado de medo.
¾       Está bem, filho! Deixe que eu tomo conta deles! Vamos, venham! – Pedro puxou uma faca da bainha que estava em sua perna.
¾       O que é isso pai?!
¾       Filho, não sei, só sei que não são lobos! – De repente, Pedro se vê frente a frente com uma criatura de dois metros e meio de altura. – Vamos grandão, me enfrente então!
¾       Cuidado pai! – O lobisomem corre em direção à Pedro, mas ele se esquiva. Então vê Lucas cara a cara com a fera.
¾       Não! – Ele decide então jogar a faca no homem-lobo; então, de repente, ele se vira para Pedro e solta um último uivo.
¾       Aí, pai!
¾       Foi demais, eu sei.
¾       Não, tem outro atrás de você! – Pedro, mesmo de costas, vê sua sombra no chão e decide, vagarosamente, pegar uma tora que havia no chão.
Lucas sussura:
¾       Pai, quando eu falar, você bate nele!
¾       Tudo bem, filho! – O enorme homem-lobo vem correndo até Pedro – Daí filho?
¾       Não, não, não... AGORA!!! – Pedro acerta em cheio na cabeça. – Pai, ele está morto?
¾       Não filho, mas ainda dá tempo de irmos para casa.
O celular de Pedro toca. Era sua mulher.
¾       Ah, oi amor.
¾       Tá, e daí? Vão demorar?
¾       Não, já estamos indo.
¾       Tá bom, mas vem logo, hein?
¾       Ok, já estam... ai!!!
¾       O que foi?
¾       Nada, me arranhei em um galho, tchau! – Ele não havia se arranhado em galho algum, mas sim, nas garras do monstro quando ele foi retirar o lobisomem morto do caminho. O bicho teve um espasmo muscular pós-morte, arranhando, assim, a perna de Pedro.
¾       Pai, e agora? Você se machucou!
¾       Deixa filho, nós cuidamos disto em casa.
Após chegar em casa, ele decide lavar a perna e planeja fazer um bilhete.
¾       E agora? Terei de deixá-los! Vou escrever o bilhete logo após pegarem no sono.
No dia seguinte, Lucas vê um papel na mesa da sala, que dizia:

Caros Familiares:
        “Devido a um incidente ontem à noite, terei de deixá-los, pois a partir de hoje, ofereço risco a vocês, pois me tornei um deles” - Pedro

Raul Batista Bock
8ª Série

quinta-feira, 24 de maio de 2012

Dragon Hunter

            Skjor era de um mundo que para nós parece estranho, mas existe mesmo. Ele é um planeta de outra galáxia chamado Skyrim. Lá existem ogros, trolls, gigantes, animais híbridos, nórdicos, elfos, mamutes, dragões, etc.
Skjor já morreu, e foi em combate. Um dragão de gelo atacou Whiterun, um pequeno vilarejo, que casualmente, era onde Skjor morava. O vilarejo era rodeado por montanhas, mas nada que impedisse o dragão de atacá-los. Ele era um dragão macho, um dos lideres da região.
Por sorte do pessoal do vilarejo, eles tinham magos de batalha muito bem equipados, um deles era Skjor, um veterano caçador de dragões. Ele já sobreviveu a várias batalhas contra dragões e gigantes, mas nunca ele havia enfrentado um dragão de gelo. Essa foi a sua primeira e última vez. O que os guardas de Whiterun, Skjor e os Templários (grupo de guerreiros do vilarejo) não sabiam era que era uma nova batalha por disputa de território.
Eram gigantes, arqueiros, o dragão, trolls, e Aela, que neste momento se revela como a traidora dos Templários. Skjor ficou chocado:
− Aela? Por quê?
− Eu não agüentava mais aquela coisa de só ser mandada, e mandada!
− Mas eu deixava você fazer o que quisesse! Não entendo o porquê!
− Agora já errei, já está feito...
− Nós seremos obrigados a atacar você! Mas não queremos... Arqueiros!
− Se é assim, ATACAR!
Quem começou a matança foram os trolls e os gigantes, mas os arqueiros tomaram conta desse problema. Agora eles deviam tomar conta dos arqueiros inimigos.
Skjor foi para a torre mais alta e começou a atacar Aela com seu arco, mas ela resistiu bravamente em cima de seu dragão, e ainda revidou tentando congelar Skjor.
O bravo vilarejo de Whiterun estava resistindo bravamente ao ataque surpresa, até que sobrou somente o dragão de gelo. Skjor e seus únicos três arqueiros restantes estavam atacando intensamente o dragão que dava rasantes muito ameaçadores. Até que um último rasante quase decepou sua cabeça, mas graças aos arqueiros, quando Aela iria dar outro rasante, o dragão foi morto, mas infelizmente, em sua queda, Skjor acabou ficando em baixo dele, sendo sufocado até morrer.
O povoado valente agradeceu a ele e ao mesmo tempo quando choravam de alegria por terem resistido, choravam de tristeza por causa de seu maior herói falecido em campo de batalha.
Morreu como um verdadeiro e histórico herói, tanto que fizeram uma estátua em sua homenagem.
Sua família ficou sem base alguma. Pelo menos, ele havia deixado um único herdeiro de sua valentia, Mahrkov. Uma nova história iria se fazer concreta...

                                                                (Estória baseada no jogo "The Elder Scrolls V - Skyrim")



                         

terça-feira, 8 de maio de 2012

O Homem cuja orelha cresceu


                                                     
Estava escrevendo, sentiu a orelha pesada. Pensou que fosse cansaço, eram 11 da noite, estava fazendo hora extra. Escriturário de uma firma de tecidos, solteiro, 35 anos, ganhava pouco, reorçava com extras. Mas o peso foi aumentando e ele percebeu que as orelhas cresciam. Apavorado, passou a mão. Deviam ter uns dez centímetros. Eram moles, como de cachorros. Correu ao banheiro. As orelhas estavam na altura do ombro e continuavam crescendo. Ficou só olhando. Elas cresciam, chegavam à cintura. Finas, compridas, como fitas de carne, enrugadas. Procurou uma tesoura, ia cortar a orelha, não importava que doesse. Mas não encontrou, as gavetas das moças estavam fechadas. O armário de material também. O melhor era correr para a pensão, se fechar antes que não pudesse mais andar na rua. Se tivesse um amigo, ou namorado, iria mostrar o que estava acontecendo. Mas o escriturário não conhecia ninguém a não ser os colegas de escritório. Colegas, não amigos. Ele abriu a camisa, enfiou as orelhas para dentro. Enrolou uma toalha na cabeça, como se estivesse machucado.
Quando chegou na pensão, a orelha saia pela perna da calça. O escriturário tirou a roupa. Deitou-se, louco para dormir e esquecer. E se fosse ao médico? Um otorrinolaringologista. A esta hora da noite? Olhava o forro branco. Incapaz de pensar, dormiu de desespero.
Ao acordar sentiu que sua orelha estava mais leve, com medo de chegar na frente do espelho e perceber que era apenas ilusão, levou as mãos devagar até a orelha.
Ao encostar notou que elas estavam pequeninas novamente, mas o que aconteceu na noite passada?
Essa pergunta não saía mais de sua cabeça. E se acontecesse novamente, o que iria fazer pra evitar?!
Seguiu para o seu trabalho, sempre com as mãos na orelha, desconfiado de que qualquer momento elas cresceriam absurdamente rápido.
O dia passou e ele continuou sempre com as mãos na orelha para ver se tudo estava do seu devido tamanho. Chegou a noite, todos foram embora e  ele ficou fazendo sua habitual hora extra.
Concentrado como nunca, sentiu novamente o peso na orelha e quando foi ao banheiro, notou que novamente elas estavam crescendo. Notou que isso só acontecia à noite, mas por quê?!
Ao passar os dias, assustado com todos os últimos acontecimentos, ele procurou um médico e fez diversos exames para saber o que estava acontecendo.
O médico chegou a conclusão que os remédios faixa-preta, que ele estava tomando no final do dia, estavam deixando-o com alucinações fortes. Trocando os remédios e mantendo-se de repouso alguns dias o deixou muito mais calmo, tranquilo, não precisando mais tomar remédios fortes, assim não levou mais sustos com sua “enorme orelha”                 
                                                               Os melhores contos de Ignácio de Loyola Brandão
                                                              Adaptação: Michelle S. da Silveira


                                 
                                     Quase Vi o Pôr-do-Sol
         



        
   Ricardo espera Raquel para uma visita. 
  Ela é uma mulher bem arrumada, rica,  já ele é pobre e desleixado.
  Ela  chega logo e diz:
 -Oi, quanto tempo!
Ricado quer mostrar a ela um local especial.
-Vamos, eu sei um lugar perfeito e ainda por cima é super romântico!
 -Onde é?
Os dois vão caminhando em direção ao cemitério e Raquel diz:
-Nossa, que cemitério gigante!
-Ele está abandonado há tempos!
-Percebe-se.
-Você me lembra a minha prima? Você tem olhos verdes iguais aos dela! Ah que saudade da minha priminha!
-Ela já morreu?
-Aos 15 anos de idade. Minha mãe também já morreu.
-Sinto muito!
Eles atravessam o enorme cemitério até o final.
Bom, Raquel, é aqui onde minha mãe e minha priminha foram enterradas.
Eles entram na capela, e Raquel reclama do frio, e diz que não gosta de cemitérios.
-É lá em baixo-diz o Ricardo.
Era uma escada caracol, tomada por teias de aranha.
-Não gosto daqui! Ricardo, vamos voltar.
-Calma, olhe ali, é a gaveta da minha prima.
Raquel começa a ler em voz alta.
-Maria Camila, nascida em 20 de maio de 1800, falecida em...-Silêncio eterno.
Raquel diz:
-MENTIROSO!
Não tinha ninguém na sala.
-Tchau, RA-QUEL.
-Como assim? Quero sair.
-Você gostou dessa brincadeira?
-Não!
-Fui.
-Ricardo, você é doente!
Raquel permaneceu  presa, acabou falecendo. Passaram quatorze anos. 
Ricardo, que já havia se esquecido de Raquel, estava em casa quando uma moça chegou lá e disse.
-Oi, quer passear?
-Claro!
Os dois saíram e ela escolheu levá-lo numa floresta para  ver o pôr-do-sol. Ele aceitou.
-Vamos, mais rápido!
A moça lembrava a mãe de Raquel.
-Você  é familiar!
-Que legal!
Logo a moça olhou para frente e viu uma senhora, que a conheceu.
-Oi.
_Oi.
Silêncio.
A moça foi voltando pra casa e o deixou  com a velha.
-Como é o seu nome, senhora ?
A velha  ficou em silêncio. Só puxou Ricardo pra fora da floresta e o levou para o cemitério. Chegaram no mesmo lugar onde Raquel havia morrido, ele disse:
-Pra que vir aqui? Hein?
-Venha, só quero te mostrar uma coisa.
- O quê?
-Um pôr-do-sol que eu não vejo há quatorze anos.
-Nossa por que tanto tempo?
-Porque faz quatorze anos  que você me matou- disse a velha trancando-os lá dentro.
-Não! Você não pode ser a Ra....
-Sim! Eu posso e eu sou!
-Não- diz ele chorando.
E lá fora, crianças ao longe brincavam de roda.

Conto de  Lygia Fagundes Telles - "Venha Ver o Pôr-do-Sol"
Adaptado por Thayná Dias Johann



segunda-feira, 7 de maio de 2012



A vida de um homem normal
Uma noite, voltando de metro para casa, como fazia cinco vezes por semana, onze meses por ano ele ouviu uma voz. Estava exausto, com o nó da gravata solto no pescoço o colarinho desabotoado, a cabeça jogada para trás o walkman a todo o volume e os fones enterrados nos ouvidos. De repente antes mesmo de poder perceber a interrupção, a música que vinha ouvindo cessou sem explicações e, ao cabo de um breve silêncio, no lugar dela surgiu uma voz que não sabia nem como nem de quem nem de onde.
E essa voz dizia:
-Quando você vai perceber que eu não estou aqui só para servir como um ‘enfeite’ de parede?
Ao ouvir isso ele abriu os olhos rapidamente e viu passar na frente dele uma menina usando muletas, parafusos na perna e um sorriso no rosto, como aquilo fazia sentido? Ele se lembrou então de quando era pequeno e quebrou o braço, da dor, do médico, do gesso, das assinaturas, pensou no quanto fez a diferença a sua mãe que na época estava em depressão, por conta da separação, ter arranjado forças que ele não sabia de onde para o ajudar.
Nesse instante, veio-lhe à mente a filha, que naquele mês não vinha ganhando muita atenção do pai por conta do trabalho, mas que aparecia para dar um abraço exatamente na hora certa.
         Lembrou-se de quando se salvou de pegar o voo em que o avião, minutos depois da decolagem, caiu sem sobreviventes. Nesse instante abriu um sorriso bem grande, não conseguiu, por mais que quisesse segurar.
Nisso, ele olhou para o lado e viu uma velhinha rezando, agora tudo fazia sentido. E uma lágrima desceu por seu rosto como em uma ladeira sem fim.
            Conto de Bernardo Carvalho.In:Contos
Adaptação: Thaís Bauer Gomes  

O Faxineiro

Ele se encontrava sobre a estreita da marquise do 18º andar. Tinha pulado ali a fim de limpar pelo lado externo as vidraças das salas vazias do conjunto 1801\5, a serem ocupadas em breve por uma firma de engenharia. Ele era o empregado recém contratado da Panamericana-Serviços gerais, o ato de haver se sentado a beira da marquise com as pernas balançando, se devia simplesmente a uma pausa para fumar a metade de cigarro que trouxera no bolso. Ele não queria desperdiçar este prazer misturando-o com o trabalho.
        Quando viu o ajuntamento de pessoas lá em baixo, apontando mais ou menos em sua direção, não lhe passou pela cabeça que realmente pudesse ser ele o centro das atenções.
       Continuou a então a fumar sem preocupação nenhuma, até que avistou em meio a multidão seu suposto chefe. Ele então desamarrou os elementos de segurança. E pensou consigo: ‘O que será que aquele monte de “formigas cigarras” faziam ali? Por que ao invés de ficarem ali apontando para ele não faziam outra coisa? ’ E continuou lavando a janela, quase oprimido.
      As formigas estavam preparadas para que acontecesse o pior a seu respeito. Estava se sentindo um doce que não podia se desprender.
      Amarrou os elementos de segurança, já não tão mais seguros. O chefe o observava atento, ele suava frio, ‘mas não deveria estar contente?’ dizia a ele o seu reflexo na janela e penetrava fazendo arder seus olhos azuis, ultra sensíveis.
      As formigas já haviam sumido, agora se transformaram em seres rastejantes, o medo de cair correu em suas veias fazendo-o ficar com as emoções a flor da pele.
    Segundos interiores, ou não se passaram, ele se desprendeu aliviado e pulou janela adentro o que o fez rasgar um pedaço da calça. Chegou a formiga mestre e só então descobriu o porquê do formigueiro, se despediu e nunca mais voltou.

Texto de Sérgio Santana.In:ItaloMoriconi
Adaptação: Thaís Bauer Gomes